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Boa alimentação na infância gera reflexos positivos até a vida adulta


Hábitos alimentares de baixa qualidade ainda na infância podem resultar em problemas de crescimento, além de diabetes ou obesidade; parceria entre pais e escola é fundamental para a garantia de uma boa saúde no futuro


Incentivar e desenvolver hábitos saudáveis ainda na infância é a melhor maneira de garantir uma vida adulta mais saudável. No caso da alimentação, a importância do famoso “prato colorido” não fica apenas na aparência. O consumo de frutas, legumes e verduras – além de proteínas, carboidratos, fibras e outros nutrientes – é essencial para um bom desenvolvimento. Por isso, uma parceria entre pais e escola é fundamental para o sucesso dessa empreitada.


“A escola deve ajudar a família em inúmeras situações, sendo a alimentação de qualidade uma das responsabilidades sociais que as instituições de ensino têm”, afirma Esther Cristina Pereira, pedagoga e diretora da Escola Atuação, de Curitiba (PR). “Se usarmos bem as habilidades e possibilidades que professores e escola possuem, ajudamos a família, fazemos a diferença para o estudante e contribuímos para uma sociedade mais ativa”.


Isso porque, caso persistam práticas alimentares de baixa qualidade, o resultado no futuro pode ser alarmante. Conforme dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 149 milhões de crianças em todo o mundo têm déficit de crescimento ou estão muito baixas para a idade, enquanto 340 milhões sofrem de deficiência de vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A e ferro, e 40 milhões estão acima do peso ou obesas.


“A alimentação é o principal passo para desenvolver alterações como diabetes, colesterol e obesidade”, pontua Manoela Richardz, nutricionista responsável pelo desenvolvimento do cardápio dos alunos da Escola Atuação. “Tudo isso é resultado de um acúmulo de problemas que vêm desde a infância e perduram até a vida adulta e poderiam ser facilmente evitados com bons hábitos”.


Pensando nisso, a escola oferece e incentiva uma rotina alimentar adequada para cada idade. “Montamos um cardápio diferente todo mês, elaborado para que as crianças tenham uma maior adaptação e aceitação. Tentamos introduzir itens mais saudáveis, como arroz integral. Além disso, a base dos alimentos, em geral, não possui ingredientes que possam causar algum tipo de intolerância”, explica a nutricionista.


Todos os dias são oferecidos, ao menos, um tipo de proteína, legumes e saladas frias, além do tradicional arroz e feijão e frutas em todas as refeições. Massas, molhos e pães são feitos na cozinha da própria escola, a fim de garantir produtos ainda mais frescos e saudáveis.


“Essa variedade é essencial”, reforça Manoela. “A criança, assim como os adultos, ‘come com os olhos’, então ter legumes e verduras sempre bem coloridos e frutas em todos os lanches, intervalos e na sobremesa contempla a variedade de nutrientes necessários e estimula a vontade por esses alimentos. No caso da proteína, que é a maior dificuldade de digestão das crianças, procuramos fazer mais picadinhos, por exemplo, para os menores, para que o consumo seja facilitado”, acrescenta.


Na Escola Atuação, foi elaborada uma “fórmula” para incentivar a boa alimentação e, ao mesmo tempo, promover boas maneiras à mesa. Utilizando alguns combinados para evitar muitas conversas, a instituição criou o “Sistema 1, 2, 3”. Com um número correspondente a cada comando, a criança solicita aquilo que deseja: um para água, dois para sobremesa, três para repetição e quatro para suco.


“O estudante e os adultos que almoçam na escola erguem o braço e pedem, em silêncio, o que precisam. Assim, temos menos bagunça no momento do almoço e ainda há o incentivo a uma alimentação mais saudável, já que as crianças veem os amiguinhos comendo”, explica a diretora da instituição, Esther Cristina Pereira.


Boa alimentação, bom aprendizado


Comer de modo adequado não influencia positivamente apenas no desenvolvimento corporal da criança. Com o crescimento físico a todo o vapor, habilidades como ler, escrever, brincar ou socializar com outras crianças são fortalecidas, já que sem uma nutrição apropriada, é impossível alcançar o melhor aprendizado. O consumo de frutas, cereais, grãos, ferro, proteínas e fibras, por exemplo, proporciona um melhor rendimento nas atividades intelectuais e favorece a memória e a atenção.


Dessa forma, quando a criança apresenta sinais de que algo pode estar errado, antes de pensar em diagnósticos de outras doenças, deve-se estar atento a possíveis deficiências nutricionais do pequeno.


“Já atendi um aluno que estava com problemas sérios de concentração e os pais achavam que era uma questão de déficit de atenção, mas na verdade era uma deficiência de ferro que estava causando esse problema”, explica a nutricionista Manoela.


A relação afetiva com o alimento


Desenvolver desde o início da introdução alimentar uma boa relação com os nutrientes é crucial para a formação dos bons hábitos da criança. De acordo com a Unicef, em todo o mundo, quase 45% das pessoas entre 6 meses e 2 anos de idade não são alimentadas com frutas ou vegetais e quase 60% não comem ovos, laticínios, peixe ou carne. Os resultados podem ser vistos no futuro: 62% dos adolescentes em idade escolar em países de renda alta consomem refrigerantes com açúcar pelo menos uma vez por dia e 49% comem fast food ao menos uma vez por semana.


Para que uma criança crie bons hábitos alimentares, entretanto, fazer a escolha correta dos ingredientes não é suficiente. Segundo a nutricionista da Escola Atuação, desenvolver “afeto” com a comida faz toda a diferença para uma adequação nutricional que trará reflexos no futuro.


“Às vezes, a alimentação em casa fica mais ‘livre’, o que pode atrapalhar a construção de uma rotina de alimentação. Somado a isso, temos a questão da relação afetiva com a comida. Momentos alegres, de comemorações ou em família, sempre remetem a um lanche, pizza ou hambúrguer, por exemplo, mas nesses momentos é importante ter algo saudável também, justamente para criar esse afeto e memórias positivas com a comida, que farão toda a diferença na fase adulta da criança”, conclui Manoela.


Créditos: V3 Comunicação

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